“Antes da invenção da
escrita, as histórias estavam confinadas aos limites da capacidade do cérebro
humano. Não era possível inventar histórias excessivamente complicadas das quais
as pessoas não conseguiam se lembrar. A escrita, porém, subitamente
possibilitou a criação de histórias longas e intricadas que eram armazenadas em
tabuletas e em papiros, e não em cabeças humanas.” – Yuval Noah Harari
Por
Bruno Coriolano
Os humanos surgem na
África Oriental, ponto! Talvez este pensamento sirva para que possamos iniciar
nossa trajetória curta por meio de pensamentos rapidamente depositados neste
espaço em branco, que apenas segue seu curso.
Na verdade, o estudo
sobre o homem, ao qual chamarei de Sapiens
nas próximas linhas, é muito mais complexo e cheio de reviravoltas do que
podemos imaginar. A grosso modo, surgimos por volta de 2,5 milhões de anos, mas
não da forma como somos hoje. Não saber sobre nossa real origem nos obriga a fazer
uso daquilo que nos separa de qualquer outra espécie: a imaginação. Sim, a
capacidade de criar coisas e, mais ainda, de acreditar nelas.
Na visão clássica do
estudo da História, somos descendentes de um gênero anterior denominado de Australopithecus, o que significa
“macaco do Sul”. No entanto, essa raça, que não tem nada de especial, não
evoluiu de forma linear (de A para B, de B para C... até chegar ao Homo Sapiens), como dizem alguns
historiadores. Há muitas novas evidências no universo científico que provam que
estamos, na verdade, redefinindo nossa história.
O que acontece é que
novas descobertas arqueológicas e o aprimoramento na própria investigação
cientifica nos leva a uma nova reconstrução da evolução humana. Desconsiderando
a corrente de pensamento que acredita que viemos do espaço sideral e em outra
forma – possivelmente uma ameba – e continuamos evoluindo até ninguém sabe
ainda que forma (e possivelmente não saberemos, pois estaremos mortos), a
grosso modo, podemos afirmar que o Homo
Rudolfensis (África Oriental), o Homo
Erectus (Ásia Oriental) e o Homo
Neanderthalensis (Europa e Ásia) também passaram pelo Planeta Terra e eram,
na verdade, humanos, como nós, os Sapiens.
Não se propaga mais
por aí que, biologicamente falando, eles saíram emprestando genes uns aos
outros até que pudéssemos existir. Na verdade, muitas formas humanoides
conviveram e inclusive se digladiaram pela própria existência. O que significa
que se você pudesse voltar no tempo, possivelmente veria vários seres que
lembravam a forma humanoide que temos hoje. Pode até parecer assustador, mas é
possivelmente, o cenário mais provável.
De forma simples, o Homo Neanderthalensis surgiu no que hoje
conhecemos como Europa e na Ásia Ocidental, ao paço que na ilha de Java, na
Indonésia, viveu o Homo Soloensis
(Homem do Vale do Solo). Este era muito bem adaptado a vida nos trópicos,
portanto já conhecia bem o calor. Eram criaturas nanicas e deram origem ao Homo Floresiensis, que chegavam a uma
altura máxima de apenas um metro, o que não os impediam de serem habilidosos na
caça de elefantes e de produzir ferramentas de pedra. (Em 2010, os arqueólogos
descobriram o que pode ser um irmão do Homo
Floresiensis na Sibéria e o nomearam de Homo
Denisova).
Como não há espaço
para detalhes, temos que deixar claro que vários desses hominídeos habitaram
nosso planeta ao mesmo tempo e, portanto, não houve essa evolução linear da
espécie humana, como já mencionei. Logo, o Homo
Ergaster não deu origem ao Homo
Erectus, que também não deu origem ao Homo
Neanderthalensis, que jamais deu origem ao Sapiens, ou seja, nossa espécie.
Mas, e se eles
conviveram, o que aconteceu com todas essas outras espécies? Por que somente o Sapiens está aqui, dando continuidade à
evolução? Um dia o Sapiens também poderá sumir?
A respostas para
todas as perguntas podem mexer bastante com as crenças de todos nós, mas foi
exatamente isso que fez com que os Sapiens
sobrevivessem e as outras espécies não. Primeiro porque nosso cérebro era maior
do que o cérebro dos outros hominídeos (ou pelo menos tínhamos uma capacidade
que os outros aparentemente não desenvolveram). E isso nos fez desenvolver uma
capacidade extraordinária de pensar. Percebemos que podíamos fazer os outros
acreditar nas coisas que dizíamos e acreditávamos e, com isso, mobilizarmos
vários Sapiens a agir baseado em
ideias propagadas.
Existem algumas
teorias que tentam explicar o sumiço de outros hominídeos e a ascensão dos Sapiens. Me apegarei na qual mais
acredito que é a “teoria da substituição”. Embora a confusão seja grande para
explicar, a grosso modo, é mais fácil de digerir, pois não terei que entrar
tanto em assunto que não domingo, como genética.
O que acontece é que sozinha nossa espécie
teria sido disseminada, pois o Homo
Neanderthalensis era muito mais forte do que o Sapiens. Em uma briga por alimentos, nós levaríamos a pior, se
fossemos enfrentar o brutamonte do Homo
Neanderthalensis sozinhos – um contra um. Em tal situação, o que
possivelmente nos favoreceu foi a capacidade de formar fortes laços sociais por
meio do convencimento.
Como temos a
capacidade de falar e imaginar coisas, possivelmente convencemos um grupo
enorme de Sapiens a criar comunidades
e enfrentar/proteger-se de outras espécies. Parece-me que a máxima “a união faz
a força” já era muito bem compreendida pelos nossos ancestrais.
Vejam só, onde
sustento meu argumento? Nas experiências mais modernas. Se em um mundo
“civilizado” como o nosso uma simples discussão política pode levar a
rompimentos de laços familiares e até a guerras, imaginem há cerca de milhões
de anos! Por que diabos o Sapiens
iria agir de forma diferente? É muito provável que quando Homo Sapiens e Homo
Neanderthalensis se encontraram por diversas vezes em territórios
partilhados, o Homo Sapiens tenha
feito a primeira “limpeza étnica da história”. Não estou dizendo que acho
correto, mas apenas apontando o que pode ser um fato.
Sugerindo respostas
para a duas primeiras perguntas (o que aconteceu com todas essas outras
espécies? E por que somente o Sapiens
está aqui, dando continuidade à evolução?), eu proponho a explicação dos quatro
parágrafos anteriores, o que me lança a terceira e mais provocadora das
perguntas: Um dia o Sapiens também
poderá sumir?
Se fosse responder
com apenas uma palavra, eu usaria um “sim”. Acredito que sumiremos um dia, mas
antes disso, iremos evoluir ainda mais. Primeiramente, iremos mudar o conceito
de ética e depois quebraremos toda conexão que temos com a religião. Bem, pelo
menos com o conceito tradicional que temos sobre religião. Não haverá distinção
clara entre ciência e religião no futuro, se eu estiver correto. Se hoje já é
difícil definir religião, em um futuro não tão distante, será mais complicado
ainda.
Falarei mais sobre o
assunto na segunda parte de “o mundo como representação daquilo em que ousamos
acreditar ser verdade.”. Mas para iniciar a provocação e queima de massa
cinzenta logo agora, eu diria que as religiões se tornarão obsoletas, nós
precisamos agir rapidamente, e muitas profissões irão sumir. Temos tempo, mas
teremos que ser mais rápidos. O sapiens já mudou sua própria história e você
ainda nem se deu conta.
a intenção deste texto foi abrir caminho para um longa – não tão
longa quanto a própria história do Sapiens – jornada com o intuito de abrir uma
reflexão mais complexas sobre a história da própria humanidade.