domingo, 25 de outubro de 2015

BICHO DO MATO.

BICHO DO MATO.


Imagem encontrada na internet. Desconheço o proprietário da mesma,
mas colocarei  tal informação, caso seja notificado. 


Por Bruno Coriolano
(15 de outubro de 2015)

Amaral (obviamente este não era seu nome real) não se relacionava muito bem com seus pares e por isso decidiu vender tudo e se mudar para uma ilha. Tudo que tinha, na verdade, não valia quase nada, mas mesmo assim, comprou uma ilha que não estava à venda. Decidiu viver sozinho para que pudesse finalmente ter contato direto com a natureza e se distanciar da raça humana. Tinha seus motivos.

Para manter sua saúde mental, ele escrevia religiosamente todos os dias em seus diários. Basicamente todo o material escrito relatava seus medos, alegrias, frustações e muita reflexão acerca da vida.

Amaral nunca foi encontrado, mas seus diários foram expostos na semana passada e estão expostos, e continuarão lá até a próxima segunda-feira, no museu da cidade velha, no interior de um estado qualquer da enorme República Federativa do Brasil.

“Estou bem! Estou adorando não ter que me preocupar em pagar contas. O governo ficava com parte do que eu ganhava... meu dinheiro tinha muito valor para mim, pois eu o ganhava de forma honesta e foi tudo fruto do meu trabalho suado. Dois mais dois são quatro. Está tudo bem! Sem mais por hoje. Até outra hora.”

As mensagens eram sempre muito curtas e por muitas vezes tínhamos a impressão que só serviam mesmo para manter o homem, que vivia em completo isolamento, ciente da própria existência.

Três semanas depois de começar a viver sozinho:

“Pense numa trabalheira... Ontem plantei duzentos pés de bananeira. Adoro bananas e vou comer toda a minha produção durante um bom tempo. Como é bom não ter que acordar cedo para pegar ônibus para ir ao trabalho chato! As cores da bandeira do Brasil são verde, amarela, azul e branca. Está tudo muito bem, mas estou tendo probleminhas para me acostumar com os mosquitos, mas vou me acostumar! É só isso por hoje.”

O tempo foi passando e o Amaral foi ficando cada vez mais envolvido com a nova vida, em uma ilha deserta, mas mesmo assim, como podemos ver nas próximas anotações, ele não parava de pensar na antiga vida que tinha.

“Está tudo muito bem, mas estou começando a me sentir fraco... comi muita banana e acho que o excesso de cálcio está me deixando um pouco zonzo. Senti uma brisa muito forte e dormir por umas quatro ou cinco horas, mesmo não sendo o horário de dormir... normalmente durmo somente à noite. Pelo que me lembro, a capital do Brasil é Brasília, que também é um tipo de carro. Está tudo mais ou menos bem!”

E o tempo vai passando e passando e passando e o Amaral começa a relatar novos acontecimentos.

“Megan Fox me visitou ontem à noite. Achei ela um pouco peluda e com um cheirinho de banana. Acho que ela também gosta de comer a mesma fruta que eu. Percebi que ela comeu boa parte das maçãs das minhas bananeiras. As coisas vão indo...”


Megan Fox, atriz americana. 
(Imagem: Megan Fox – Mikaela Banes – HD wallpaper)



Havia uma lacuna de quase dois meses entre a última página escrita e a seguinte. O que podemos notar é um Amaral, digamos, mais para lá do que pra cá.   

“Não vi mais a Megan Fox por aqui. Achei ela muito interesseira. Veio aqui, se aproveitou da fartura e se mandou. Não importa, sou mais eu! Sem paciência para escrever. Ontem eu passei a manhã dizendo que queria cancelar a conta do telefone, mas a ligação só dava na caixa postal... só não lembro onde consegui esse maldito telefone celular...”

 Três semanas depois...

“Já disse que não quero mais nada com a Megan Fox. Dessa vez ela foi longe demais. Trouxe dois robôs gigantes para morar conosco. Não gosto de gente espaçosa... dois malucos tentaram me vender uma geladeira. E um cara queria me vender uma enciclopédia. Recusei tudo, lógico. Maradona fez um gol com a mão e a capital da Argentina é Berlim...”

As mensagens estavam cada vez mais malucas e cada vez mais sem sentindo.

“Não dou porque é minha... todos querem levar minha TV. Não posso ficar sem ver a novela das oito.”

“Tive a impressão de ter visto a Megan Fox dependurada numa árvore. Não sei que diabos ela estava fazendo lá! Estava com um casaco de peles e toda suja.”

“Depois de tanto tempo vivendo nessa cidade, acho que chegou a hora de procurar outro castelo para morar. Meu nome é Paulo e tenho um barco, que não empresto para ninguém, me esperando para me levar para lua. A capital do Brasil é a Argentina... Pelé marcou um gol com a mão... as coras da bandeira do EUA são preta, amarela e vermelha. Estava tudo bem até eu perder meus óculos. Agora não consigo mais achar a chave da porta e estou dormindo do lado de fora. E sei que eu tinha prometido que iria fugir dos piratas, mas só vou amanhã, quando a Megan Fox voltar do passeio com o Tarzan.”   

No total, o Amaral escreveu cento e cinquenta e duas páginas em um caderno velho. Isso durante dois anos, o tempo que viveu isolado. Ninguém sabe aonde ele foi parar, mas os seus escritos podem revelar alguma coisa sobre o comportamento dos seres humanos quando isolados do resto da sua raça.

Acharam um orangotango vivendo dentro de uma cabana onde os diários foram encontrados. Ao que tudo indica, é fêmea e ela recebeu o nome de Megan Fox. Será que o Amaral voltou pra Brasília?