domingo, 27 de dezembro de 2015

Hashtag (com dois Hs)


Imagem maneira de um Jesus bem boy que circula pela net.



Por Bruno Coriolano
(21 de dezembro de 2015)

Durante um dia inteiro Adolfo Junior (obviamente este não é o seu nome verdadeiro e não tem acento, pois o pai quis economizar para adaptar o filho a moda da WWW) ficou observando o comportamento dos seus pares. Junior, como seria chamado se este fosse seu nome verdadeiro, é um ilustre morador da famosa casa, para não declarar publicamente que se tratava de um hospício, Asteroide Pequeno que Todos Chamam de Terra.

Ele percebeu que todos os outros habitantes não mais se comunicavam como outrora. Eles nem abriam mais suas bocas para dizer nada. Toda a comunicação era feita via internet. Todos conectados e ninguém falando nada, mas teclando. Nos restaurantes, hospitais, escolas, ruas, em todos os lugares. Ninguém mais fala, só tecla. “Não é doença, é moda” afirma um defensor da prática.

Partindo da observação destes fatos, ele começa a se questionar: “Hoje seria uma ótima oportunidade para a volta de Jesus?” Não sei, mas se fosse para falar com seus seguidores pessoalmente, nosso Salvador teria uma concorrência muito grande: A distração do povo. 

Já pensaram ver Jesus tentando se comunicar de forma mais moderna? Tipo, #Cheguei ou #EstaSalvo, #VaiProPurgatorio ou #NãocurtiEssaSuaAtitudeAi #VouDarUmUnfriend #SelfieDivina #partiu e afins seriam parte do novo vocabulário do Nosso Senhor.

Eu não sou nada exagerado e nem zeloso a respeito do tema. Qualquer um que olha a sua volta vai perceber que é uma constante em nossa vida cotidiana. Já nascemos sendo expostos. Quantos aqui não viram a foto de uma criança, recém-saída da #Vagina da mãe, sendo exposta nas redes sociais? Aliás, isso não se resume ao nascimento. Estamos todos colocando fotos de momentos que antes eram restritos a nós mesmos.

Junior já percebeu que toda a comunicação é feita de forma bem diferente e democrática. Não existe regra para escrita. Vale o que está ali posto e ponto final. Com ou sem acento, com “ç” ou “ss” ou “s” sem som de “z”.

Essas regras gramaticais tradicionais ferem o princípio básico da comunicação moderna: A escrita apressada e desleixada. Mas a mesma é oportuna. Não há problemas em trocar umas letras e/ou vírgulas (ou até esquecer de usar esse elemento inexpressivo).

Afinal, voltando para Jesus, que mal faria se ele postasse um recado, na sua Fanpage do Facebook, para sua progenitora (com “g”) do tipo: “O #jantar #está na #mesa! Vamos comer Maria!”?

Claro que uma vírgula boba não iria trazer problema algum. Bem, talvez um pecado, um pecadinho, pois Maria (com M maiúsculo) poderia não permanecer virgem. Essa vírgula seria nada mais do que uma bobagem (para a alegria do Seu Pai José, talvez).

Pois junior (agora com o “j” minúsculo) não pode fazer nada para mudar a situação (com “s”). Coisa chata (não é com “x”) essa de ficar se importando com as coisas dos outros. Não vai demorar muito para um juiz de Direito proferir sua sentença na rede (#Culpado #10AnosDeCadeia #Partiu). E o médico, que no meio de uma cirurgia complicadíssima poderia dar uma pausa para uma selfie com um rim de um paciente (#TirarUmRim #BotaORimDeVolta #Énoiz).

Mas vocês já pensaram como seria conveniente assistir à missa apenas de casa? Algo tipo, uma transmissão via YouTube com interatividade no Facebook. Pois é, seria o must!


Frescura desse Junior (com “J” maiúsculo de novo) querer observar algo tão bobo e banal. Tanta coisa mais importante acontecendo aí no país (e no mundo, virtual, lógico). Não vai demorar mais do que dois meses para negada começar a guerra virtual de #TiraPresidente versus #FicaPresidente. E mais, nós vamos chegar ao absurdo de acreditar que as #Hashtags vão resolver nossos problemas, quando, na verdade, elas irão apenas trazer o ódio (mais ódio). Até lá, Júnior já vai ter voltado a ter acento!