Por Bruno Coriolano
13 de agosto de 2017
"Como
receberia uma intervenção? De um único modo: à bala!"
(Floriano
Peixoto)
Uma rápida pesquisa no Google e notamos um número
bastante considerável de avenidas e ruas com o nome de Marechal Floriano Peixoto,
ou simplesmente Floriano Peixoto. São Aproximadamente 603.000 resultados para “Avenida
Marechal Floriano Peixoto” e mais 700.000 resultados para “Rua Marechal
Floriano Peixoto”. E ainda temos cidades com o nome Marechal Floriano ou em
referência ao mesmo.
A máxima
“brasileiro tem memória curta” poderia ser uma boa explicação para tantas honrarias
para tal figura histórica brasileira. Na verdade, poderíamos dizer mesmo que
brasileiro, a grosso modo, desconhece sua própria história, ou, na melhor das hipóteses,
confia na primeira coisa que lhe dizem.
Tal assunto poderia ser de pouquíssima relevância,
afinal, quem iria querer levantar tal questão sobre um sujeito que morreu há
123 anos?
O fato é que, considerando o atual momento da
história brasileira, nosso personagem entra para a mesma como o primeiro
vice-presidente a assumir a República Federativa do Brasil. Isso mesmo, muita
gente sabe que Floriano Vieira Peixoto, nordestino nascido em Maceió, foi
presidente do Brasil, sem vice-presidente.
O que talvez muita gente não saiba – e ninguém tem
obrigação de carregar tal informação consigo – é que o mesmo Floriano foi, na
verdade, o primeiro vice-presidente também, assumindo o cargo de chefe de
governo e chefe de Estado do maior país em extensão territorial da América
Latina. Logo, não vá pensando que Michel Temer foi o primeiro vice-presidente
do país a “aplicar um golpe” e assumir a presidência. A história do Brasil é
bem mais recheada do que a TV e as páginas do Facebook andam lhe contando.
No dia 23 de novembro de 1891, um homem descrito pelo
escritor, tradutor e ilustrador Paulo Schmidt como um “homem de hábitos
frugais, baixo, franzino, lacônico e impassível como seus ancestrais índios”
assume o cargo máximo de líder dos brasileiros. Até aí nada de anormal, mas já
nas suas primeiras atitudes antes do famoso golpe militar, sem participação
popular, que primeiro derrubou a legitima monarquia brasileira e forçou o
exílio imediato do Imperador Dom Pedro II e sua família, o que depois viria a
consolidar o episódio patético que conhecemos como PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA, se
mostrara um completo covarde.
Floriano Vieira Peixoto, ajudante-general do exército
brasileiro, traiu o primeiro presidente, o Marechal Deodoro da Fonseca, que
hoje não passa de efígie na moeda de 25 centavos da segunda geração de moedas
do Real e que também não fora eleito pelo povo presidente do Brasil. Floriano
aliou-se ao Partido Republicando Paulista, partido que viria a sofrer traição
dele mais tarde quando o novo presidente da república, e resolveu contrariar os
ideais da legenda e centralizar o governo em torno de si próprio e não ceder
autonomia aos estados brasileiros, que compunham a república federativa, o que
dava legitimidade ao nome oficial da nação (República Federativa do Brasil).
Se tivesse parado por aí, Floriano Peixoto, sobretudo
se considerarmos as atrocidades que seu antecessor e quase todos os sucessores
viriam a cometer, poderia até ser considerado um santo. Santo não, um cavaleiro
do apocalipse, no melhor dos cenários. Floriano tentou introduzir na política
nacional uma figura que nunca existiu – e que até o ano de 2017 ainda não
existe – a figura de salvador da pátria.
Autocrata, deteve todo o poder pela força, sob a
desculpa de proteger o país contra inimigos que só existiam em sua cabeça
desajustada. Como um verdadeiro autoritário, Floriano tentou regular todos os
aspectos (economia, cultura...) da sociedade brasileira, chegando inclusive a
determinar, em 1892, que a festa do carnaval fosse transferida para o mês de
junho. A justificativa do grande sábio em questão era que a grande concentração
de pessoas aumentava o risco de epidemias. Vários artigos de jornais da época
traziam a revolta dos jornalistas, que alegavam que o novo presidente não
queria a alegria do povo.
Isso tudo não foi nada comparado ao não comprimento
do artigo 42 da primeira constituição republicana brasileira (ortogada em 1891),
que versava sobre novas eleições para presidente da república, caso o
presidente renunciasse antes de dois anos*. O que acontece é que o presidente
que antecedera Peixoto, o já mencionado Deodoro da Fonseca, renunciara no dia 23
de novembro de 1891. Mas Floriano assumiu, e permaneceu no cargo, alegando que “a
própria constituição abria uma exceção, ao determinar que a exigência só se
aplicava a presidentes eleitos diretamente pelo povo, assumindo assim o papel
de consolidador da República”, assim, anulando o decreto de dissolução do
Congresso, além de trocar os governadores que apoiavam Deodoro.
O que sabemos hoje é que a única coisa que ele
consolidou foi a perpetuação do próprio autoritarismo na política brasileira.
As grandes marcas de tal crápula são perceptíveis na sua promoção de violência,
desprezo pelas leis e pela democracia, atitudes completamente contrarias aos
valores prometidos pela República.
Floriano Peixoto então permaneceu no poder como
presidente da República por 2 anos e 357 dias, enfrentando a Revolução
Federalista no Rio Grande do Sul com mão de ferro, o que, a grosso modo, o
rendeu o único título que mereceu receber, “Marechal de Ferro". Título, na
verdade, que não passava de um apelido pejorativo e que lhe rendeu a homenagem
forçada de renomear a cidade catarinense Desterro (Originalmente denominada
"ilha de Santa Catarina") para Florianópolis, belíssima cidade que
não lembra em nada o Marechal de Ferro.
Lógico, nomear uma avenida com o nome de um “herói
nacional” como este é um ato de grandeza. Duvido que até mesmo ele, em sã consciência
iria imaginar um dia viver qualquer homenagem de um povo mais culto. No entanto,
vivemos de fatos e não de imaginação. O carto mesmo é que pelo menos agora você
já sabe quem foi Floriano Peixoto.
Para não alongar ainda mais o texto, resumo logo
abaixo algumas curiosidades sobre o Marechal de Ferro.
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*Marechal Deodoro da Fonseca
exerceu a presidência entre 15 de novembro de 1889 e 26 de fevereiro de 1891 na
qualidade de chefe do Governo Provisório, que não possuía vice-presidente. Em
25 de fevereiro de 1891 foram eleitos, pelo Congresso Constituinte, o primeiro
presidente e vice-presidente do Brasil, sendo formalmente empossados no dia
seguinte.
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CURIOSIDADES SOBRE FLORIANO PEIXOTO
- Mandato como presidente: 1891 –
1894 (2 anos e 357 dias)
- Apelidos: Marechal de Ferro,
Caboclo do Norte e Tabaréu das Alagoas
- Floriano ordenou o fuzilamento de
185 opositores ao seu regime e perseguiu a imprensa.
- Floriano foi mencionado em obras
diversas de escritores como Jorge Amado (O Cavaleiro das Esperança), mas possivelmente a obra que o
melhor descreve é o romance de Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma.
- Quando foi eleito nas eleições
constitucionais para eleger o primeiro presidente do brasil, Floriano não
era candidato como vice de Deodoro. O que acontece é que eram eleitos
presidente e vice, logo, um poderia não estar compondo o mesmo grupo do outro.
Ambos foram eleitos de forma indireta.
- Floriano Peixoto, teve sua efígie
impressa nas notas de Cr$ 100 (cem cruzeiros) colocadas em circulação no
Brasil entre 1970 e 1980 e na moeda de 2000 réis de 1939.
- Floriano Peixoto seguia ideais positivistas
e via a intervenção militar como uma oportunidade de garantir o progresso
e a evolução da sociedade brasileira pelo regime republicano.
- Além da Revolução Federalista no
Rio Grande do Sul, Floriano também enfrentou, em 1893, a Revolta da
Armada, que foi organizada por comandantes da Marinha que queriam a
presidência e, portanto, ele fora do poder.
- Floriano foi casado com sua prima Josina
Vieira de Araújo Peixoto (1857- 1911). Ambos cresceram juntos, já que
Floriano havia sido adotado como afilhado pelo pai de Josina, o coronel
José Vieira de Araújo Peixoto. Floriano teve oito filhos (Ana Peixoto,
José Peixoto, Floriano Peixoto Filho, Maria Teresa Peixoto, José Floriano
Peixoto, Maria Amália Peixoto, Maria Josina Peixoto e Maria Anunciada
Peixoto.
- Floriano não era de nenhum partido.
REFERENCIAS
(sem formatação especifica)
COSTA,
M. A História do Brasil Para Quem Tem Pressa. 2016.
FAUSTO,
Boris, HISTÓRIA DO BRASIL, -13. Ed.-São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2009
Redação.
Floriano Vieira Peixoto - Biografia. UOL Educação. Consultado em 29 de junho de
2012
Schmidt,
P. Guia Politicamente Incorreto Dos Presidentes da República. 2016
SCHWARCZ,
L. M. STARLING, H. Brasil: Uma Biografia. Companhia das Letras. 2015.
Tiago
Ferreira da Silva (17 de maio de 2010). Governo de Floriano Peixoto». História
Brasileira. Consultado em 23 de junho de 2012
VIEIRA
PEIXOTO, Artur, Biografia do marechal Floriano Peixoto, Volume 1 da Coleção
“Floriano Memórias e Documentos”, 1ª edição, 1939, Edição do Serviço Gráfico do
Ministério da Educação, Rio de Janeiro, 1939.
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Não tenho direito algum sobre as
imagens que aparecem nesta postagem. Caso alguém saiba algo sobre os créditos,
peço que me avisem, pois irei creditar cada uma delas. As mesmas foram
retiradas da internet e estão aqui apenas para ilustrar a página.
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