BICHO DO MATO.
Imagem encontrada na internet. Desconheço o proprietário da mesma, mas colocarei tal informação, caso seja notificado. |
Por
Bruno Coriolano
(15
de outubro de 2015)
Amaral (obviamente este não era seu nome real) não
se relacionava muito bem com seus pares e por isso decidiu vender tudo e se
mudar para uma ilha. Tudo que tinha, na verdade, não valia quase nada, mas
mesmo assim, comprou uma ilha que não estava à venda. Decidiu viver sozinho
para que pudesse finalmente ter contato direto com a natureza e se distanciar
da raça humana. Tinha seus motivos.
Para manter sua saúde mental, ele escrevia
religiosamente todos os dias em seus diários. Basicamente todo o material
escrito relatava seus medos, alegrias, frustações e muita reflexão acerca da
vida.
Amaral nunca foi encontrado, mas seus diários foram
expostos na semana passada e estão expostos, e continuarão lá até a próxima
segunda-feira, no museu da cidade velha, no interior de um estado qualquer da
enorme República Federativa do Brasil.
“Estou bem! Estou
adorando não ter que me preocupar em pagar contas. O governo ficava com parte
do que eu ganhava... meu dinheiro tinha muito valor para mim, pois eu o ganhava
de forma honesta e foi tudo fruto do meu trabalho suado. Dois mais dois são
quatro. Está tudo bem! Sem mais por hoje. Até outra hora.”
As mensagens eram sempre muito curtas e por muitas
vezes tínhamos a impressão que só serviam mesmo para manter o homem, que vivia em
completo isolamento, ciente da própria existência.
Três semanas depois de começar a viver sozinho:
“Pense numa
trabalheira... Ontem plantei duzentos pés de bananeira. Adoro bananas e vou
comer toda a minha produção durante um bom tempo. Como é bom não ter que
acordar cedo para pegar ônibus para ir ao trabalho chato! As cores da bandeira
do Brasil são verde, amarela, azul e branca. Está tudo muito bem, mas estou
tendo probleminhas para me acostumar com os mosquitos, mas vou me acostumar! É
só isso por hoje.”
O tempo foi passando e o Amaral foi ficando cada vez
mais envolvido com a nova vida, em uma ilha deserta, mas mesmo assim, como
podemos ver nas próximas anotações, ele não parava de pensar na antiga vida que
tinha.
“Está tudo muito
bem, mas estou começando a me sentir fraco... comi muita banana e acho que o
excesso de cálcio está me deixando um pouco zonzo. Senti uma brisa muito forte
e dormir por umas quatro ou cinco horas, mesmo não sendo o horário de dormir...
normalmente durmo somente à noite. Pelo que me lembro, a capital do Brasil é
Brasília, que também é um tipo de carro. Está tudo mais ou menos bem!”
E o tempo vai passando e passando e passando e o
Amaral começa a relatar novos acontecimentos.
“Megan Fox me
visitou ontem à noite. Achei ela um pouco peluda e com um cheirinho de banana.
Acho que ela também gosta de comer a mesma fruta que eu. Percebi que ela comeu
boa parte das maçãs das minhas bananeiras. As coisas vão indo...”
Megan Fox, atriz americana.
(Imagem: Megan Fox –
Mikaela Banes – HD wallpaper)
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Havia uma lacuna de quase dois meses entre a última página
escrita e a seguinte. O que podemos notar é um Amaral, digamos, mais para lá do
que pra cá.
“Não vi mais a
Megan Fox por aqui. Achei ela muito interesseira. Veio aqui, se aproveitou da
fartura e se mandou. Não importa, sou mais eu! Sem paciência para escrever.
Ontem eu passei a manhã dizendo que queria cancelar a conta do telefone, mas a
ligação só dava na caixa postal... só não lembro onde consegui esse maldito
telefone celular...”
Três
semanas depois...
“Já disse que não
quero mais nada com a Megan Fox. Dessa vez ela foi longe demais. Trouxe dois
robôs gigantes para morar conosco. Não gosto de gente espaçosa... dois malucos
tentaram me vender uma geladeira. E um cara queria me vender uma enciclopédia.
Recusei tudo, lógico. Maradona fez um gol com a mão e a capital da Argentina é
Berlim...”
As mensagens estavam cada vez mais malucas e cada
vez mais sem sentindo.
“Não dou porque é
minha... todos querem levar minha TV. Não posso ficar sem ver a novela das
oito.”
“Tive a impressão
de ter visto a Megan Fox dependurada numa árvore. Não sei que diabos ela estava
fazendo lá! Estava com um casaco de peles e toda suja.”
“Depois de tanto
tempo vivendo nessa cidade, acho que chegou a hora de procurar outro castelo
para morar. Meu nome é Paulo e tenho um barco, que não empresto para ninguém,
me esperando para me levar para lua. A capital do Brasil é a Argentina... Pelé
marcou um gol com a mão... as coras da bandeira do EUA são preta, amarela e
vermelha. Estava tudo bem até eu perder meus óculos. Agora não consigo mais
achar a chave da porta e estou dormindo do lado de fora. E sei que eu tinha
prometido que iria fugir dos piratas, mas só vou amanhã, quando a Megan Fox
voltar do passeio com o Tarzan.”
No total, o Amaral escreveu cento e cinquenta e duas
páginas em um caderno velho. Isso durante dois anos, o tempo que viveu isolado.
Ninguém sabe aonde ele foi parar, mas os seus escritos podem revelar alguma
coisa sobre o comportamento dos seres humanos quando isolados do resto da sua
raça.
Acharam um orangotango vivendo dentro de uma cabana
onde os diários foram encontrados. Ao que tudo indica, é fêmea e ela recebeu o
nome de Megan Fox. Será que o Amaral voltou pra Brasília?